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Uma tentativa, porque não é uma certeza


Desenho

Podemos entender a filosofia, num sentido restrito, como uma tentativa de compreender de forma racional, a totalidade do real, da qual decorre uma forma de agir. Nas suas origens, a filosofia não era só racionalidade, era também uma busca amorosa pela verdade e pelo sentido da vida. Com o filósofo grego Pitágoras origina-se a noção de Filosofia como um modo de vida, descrevendo o caminho traçado pelo mestre quando este chamou a si mesmo de philosophos, aquele que é amigo, ou que ama a sabedoria, aquele que empreende os seus melhores e maiores esforços na busca amorosa da verdade.


A filosofia é uma tentativa, porque não é uma certeza. Se fosse uma certeza, não haveria necessidade de sair em busca do conhecimento. Uma tentativa de compreender o real de forma racional, porque a filosofia não se vale da experiência, como o fazem as ciências, e nem tampouco se vale da fé, como o fazem as religiões, para tentar entender e explicar a realidade em que vivemos.


A filosofia tenta entender o real como um todo. E por totalidade do real deve-se entender tanto o mundo exterior como o mundo interior, ou seja, a filosofia no sentido de uma concepção do universo e a filosofia no sentido de uma concepção do eu; sendo que estes dois elementos essenciais da filosofia se intercalam e se completam. De todo este esforço da razão, para tentar compreender a realidade à nossa volta, decorre uma forma de agir porque é preciso, de alguma forma, intervir na sociedade em que vivemos, para melhorá-la e modificá-la, diante de todas as injustiças e perversidades que existem no mundo.


A busca da felicidade é uma constante do homem. A palavra felicidade remete-nos à condição existencial humana e a algo desejado. Por ela, elaboramos teorias, tomamos decisões, agimos individual e colectivamente. Podemos reflectir sobre o que é, ou o que não é. Geralmente relacionamo-la a condições materiais privilegiadas, como ser popular, ter honra, poder, glória e dinheiro. Em momentos de crise, ou como terapia para vícios tradicionais, a exemplo de orgulho, vaidade, inveja, raiva etc., buscamos livros de auto ajuda, muito em moda na sociedade contemporânea, a receita do bem-estar interior, da tranquilidade, da harmonia e da paz de espírito.


Todos estes sentimentos, aspirações e pensamentos, encobrem a situação e a posição que o homem ocupa no seu quotidiano e revelam a própria condição humana do seu tempo e no tempo, desde sempre na luta entre paixão e razão. No contexto actual, de complexidade e diversidade de informações, de conhecimentos e de relações, acrescidos pelo potencial (positivo e negativo) dos avanços tecnológicos e genéticos que fazem alguns conjecturarem sobre um futuro próximo, recolocam-se questões.


Aprendemos e educamo-nos, a despeito das teorias de ensino e de aprendizagem tradicionais, a não sermos apenas levados, ou conduzidos, pela mão do mestre. A aprendizagem é sempre do próprio sujeito. Por nossa própria conta, podemos aprender experimentando, ou simplesmente fazendo analogias, ou ainda usando a memória e a imaginação, a partir do nosso passado e do conhecimento da narrativa do passado dos outros, desde as histórias contadas e escritas até a literatura especializada.


As teorias e práticas educacionais, em qualquer época, com os seus condicionamentos sociais, económicos e políticos, possuem conceitos estruturantes, concepções e abordagens filosóficas, próprias de diferentes áreas de investigação. Desses pressupostos, surgem questões cruciais sobre a vida humana e a sua complexidade. Muitas destas questões são postas e repropostas por cada geração, tornando-se clássicas sem se esgotar, pois muitos problemas continuam os mesmos.


O que interessa à maioria dos mortais é agarrar-se ao “ter” (posses materiais e riquezas) como condição de ser feliz. Apostar exclusivamente nos “bens” é a melhor alternativa para uma vida humana feliz? Não se trata de um simples desejo banal, comum das pessoas, de “ter” ou “não ter”. O que está em jogo é a possibilidade da liberdade humana diante da aparência enganadora dos “bens”. A questão é uma reflexão puramente filosófica, empreendida por mentes que pensam.


É o destino da vida humana ter/perder os bens e pensar, erradamente, que a felicidade reside na sua posse. A "Fortuna", como era chamada pelos romanos (resultando mais tarde na popular alegoria e nos jogos da roda da fortuna), é presença dominante também na nossa sociedade consumista. Estas duas formas (ter e perder) são o destino, que é a lei de sucessão das coisas no tempo. E o destino está na via oposta da Filosofia, que é a sabedoria racional. A Filosofia mostra que o problema do homem está em escolher quem o vai dominar: o destino (Fortuna) ou a sabedoria racional.


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